A Quercus está a desenvolver um dos seus projetos mais emblemáticos que intervém diretamente sobre uma espécie criticamente ameaçada a nível nacional e europeu: o mexilhão-de-rio. Coordenado pela Quercus, e cofinanciado pelo POSEUR (Operação POSEUR-03-2215-FC-000096) e pelo Fundo Ambiental, o projeto “Recuperação e Proteção da Margaritifera margaritifera” teve início em julho de 2018.
No Dia Internacional da Biodiversidade, fica em destaque o projeto da Quercus “Recuperação e Proteção da M. margaritifera”. Este projeto assume grande importância ao nível da conservação da biodiversidade, já que intervém diretamente sobre uma espécie, o mexilhão-de-Rio (M. margaritifera), protegida internacionalmente pela Convenção de Berna (Anexo III) e Diretiva Habitats da Comissão Europeia (Anexo II e V), estando igualmente listada como “Em Perigo”, a nível global, e como “Criticamente em Perigo” na Europa, pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) de Espécies Ameaçadas (Cuttelod et al., 2011; IUCN, 2018). A avaliação efetuada no último relatório nacional no âmbito do art. 17º da Diretiva Habitats classificou a espécie como “Desfavorável-Mau” (U2), com redução dos efetivos populacionais e da área de habitat ocupado.
São várias as ações deste projeto, nomeadamente: a avaliação da qualidade biológica e morfológica de rios de aptidão salmonícola; a avaliação da extensão, distribuição detalhada e estado de conservação atual das populações de M. margaritifera em Portugal; a análise da vulnerabilidade dos rios de aptidão salmonícola às alterações climáticas e outros fatores de regressão das populações de M. margaritifera e do hospedeiro Salmo trutta; medidas de requalificação dos habitats para a promoção deste bivalve; a reprodução ex situ do mexilhão-de-rio e da truta em Portugal e o desenvolvimento de novas metodologias de criação em cativeiro e monitorização de repovoamentos. Como parte integrante e essencial para a disseminação deste projeto, estão programadas variadíssimas ações de sensibilização junto da população, com produção de material diverso de divulgação.
Sobre a Espécie: Nas últimas décadas, os bivalves de água doce têm sofrido taxas de extinção ou declínio acentuadas, sendo os mexilhões de água doce e em particular a espécie M. margaritifera (Linnaeus, 1758) uma das mais ameaçadas em toda a Europa. Esta espécie habita principalmente rios de montanha, de águas frias, e atinge uma longevidade significativa. Possui um ciclo de vida complexo, com uma fase larvar parasítica e uma relação estritamente dependente da presença de peixes nativos hospedeiros da família Salmonidae.
É atualmente descrita como sendo uma espécie indicadora de rios de elevada integridade ecológica, onde desempenha funções vitais para o ecossistema, como sejam a capacidade de filtração e depuração da água e a reciclagem de nutrientes.
No entanto, desde o princípio do século passado, assiste-se a um decréscimo superior a 90% dos efetivos populacionais de M. margaritifera na Europa, tendo-se extinguido ou tornado rara em muitos países europeus, incluindo Portugal. As causas para esta redução drástica e mesmo para algumas extinções locais estão normalmente relacionadas com a alteração, perda e degradação do habitat; poluição; regularização de caudais; introdução de espécies exóticas; e diminuição dos peixes nativos hospedeiros.
Atualmente, em Portugal, as populações de M. margaritifera estão confinadas apenas a oito rios pertencentes às bacias hidrográficas do Douro (Sub-bacia do Tua: rios Tuela, Rabaçal, Mente; Sub-bacia do Paiva: rio Paiva, Sub-bacia do Tâmega: rios Beça e Terva) e do Noroeste (Cávado e Neiva).
O projeto “Recuperação e Proteção da M. margaritifera” tem como objetivo final inverter o processo de declínio continuado e acentuado das suas populações e proteger e/ou recuperar os núcleos históricos desta espécie, constituindo-se ainda como o plano de referência orientador para os vários intervenientes no processo, nomeadamente a administração central. Espera-se que este projeto contribua decisivamente para a gestão adequada num quadro de sustentabilidade futura de ambas as espécies-alvo (binómio bivalve/peixe) nos rios de Portugal, travando perdas irreversíveis da espécie M. margaritifera, que teriam consequências muito negativas ao nível da extinção de núcleos populacionais e da diminuição da diversidade genética associada a estas populações.
Em traços gerais, o investimento do projeto é repartido pela componente técnico-científica, pela requalificação de infraestruturas (Posto aquícola de Castrelos – Bragança – ICNF) e pela comunicação e disseminação do mesmo. A componente técnico-científica está assegurada pelo Consórcio MCG Margaritifera, composto pelo Instituto Politécnico de Bragança, Faculdade de Ciências – Universidade de Lisboa, ICETA/ CIBIO-InBio – Universidade do Porto, Universidade do Minho, Freshwater Lda, BIOTA Lda e Universidade de Aveiro.